sábado, 5 de julho de 2014

Conto - Segredos

Oi gente!
Não sei se eu já cheguei a comentar aqui no blog, mas eu, mesmo não sabendo muito bem, gosto de escrever. Um dia desses que eu não tinha nada pra fazer, acabei escrevendo um conto (?) baseado em uma frase de um livro que li há muito tempo; essa frase foi: "She'd known we wouldn't follow.", que, se eu não me engano, é do livro Give Up the Ghost.
Pra quem quiser ler o resultado desse devaneio, aí vai o conto que eu chamei de Segredos!

Hoje contarei a história que mudou como eu via uma amiga minha, minha melhor amiga, na verdade; essa é a história em que Ana, uma garota cheia de segredos, muda a minha vida completamente.
Desde que a conheci, ela sempre estava fazendo algo que não podia contar; no começo achei que ela não confiava em mim o suficiente e que, com o passar do tempo, ela passaria a me contar esses segredos como as garotas normais faziam, mas Ana simplesmente não era assim.
Depois de anos sendo amigas, eu me acostumei com essa situação, mas nunca deixei de ser curiosa sobre as coisas que Ana fazia. Certo dia conheci Elene, uma garota que tinha acabado de se mudar para a cidade e parecia ser muito legal. Elena não conseguia fazer amizade com Ana, o que tornava minha vida bem mais complicada, pois Ana, quando não estava imersa em seus segredos, gostava muito de conversar e passar tempo juntas, mas quando Elena estava junto ela ficava tímida, eu julgava, e não conversava, não fazia nenhum esforço para conhecer Elena - isso era o que mais me irritava, pois queria que minhas melhores amigas fossem, também, amigas.
Passados alguns meses, Elena começou a ficar intrigada com os segredos da Ana e sugeriu que fossemos atrás dela um dia para descobrirmos o que ela tanto fazia. Eu, que sempre tive curiosidade, fiquei tentada a aceitar o convite de Elena, mas temia que se fizesse isso Ana deixaria de ser minha amiga  por quebrar a confiança que ela tinha em mim - mesmo que essa não fosse tão grande ao ponto dela me contar o que fazia. Quando recusei sua oferta, Elena ficou brava comigo dizendo que eu me importava mais com Ana que com ela, que eu era mais amiga de uma esquisita cheia de segredos e, portanto, devia ser igual à ela. Nunca esperei uma reação dessa vinda de Elena, uma garota que eu considerava tanto como amiga; achei que com o tempo ela entenderia meus motivos e colocaria em xeque, assim como eu fiz, sua curiosidade sobre os segredos da Ana.
Ah, como a esperança é uma perda de tempo! Ao contrário de tudo que eu pudesse imaginar, Elena parou de conversar comigo e passou a andar com outras garotas e, pensava eu, que contou todos os segredos - meus e da Ana - para as meninas populares da escola, pois todos passaram a olhar estranho para mim e Ana. Não acreditava que tinha conseguido ser amiga de uma pessoa assim volúvel! Por causa de uma briga, ela se volta contra mim e minha melhor amiga.
Já faziam algumas semanas que Elena tinha desaparecido quando encontrei um bilhete seu pedindo que eu a encontrasse em um antiga fábrica. No primeiro momento não queria ir pensando que poderia ser uma armadilha ou coisa do gênero, mas ignorei essa teoria logo que reparei que as garotas populares nem se lembravam de Elena, era como se ela jamais tivesse existido. Pensei, então, que ela tinha visto que errou e queria se desculpar ou se despedir, pois eu achava que ela iria se mudar de novo - coisa que ela disse ser muito normal quando nos conhecemos.
Quando cheguei a tal fábrica me perguntei se tinha sido uma boa ideia, as populares poderiam muito bem estar mentindo e ser, afinal, uma armadilha à la Carrie, mas logo que vi Elena me esperando esqueci dessa ideia e fui conversar com ela. O que eu não esperava era ver Ana parada no fundo da sala com outras pessoas, quem eu não conhecia, ao seu lado. Apenas com a expressão no rosto de Ana eu entendi que algo deveria estar muito errado; será que Elena tinha me trazido para um segredo da Ana? Imediatamente fiquei apreensiva e queria brigar com ela por ter feito isso comigo e Ana; como haviam mais pessoas na sala, me conti, mas jurei que quando saíssemos dali o faria imediatamente.
Logo que comecei a me desculpar com Ana, ela balançou a cabeça para que eu parasse de falar. Naquele momento achei que tinha perdido minha melhor amiga, mas Ana me surpreendeu dizendo que ela era a responsável pelo bilhete e pelo encontro. Certamente minha expressão era de completa confusão, pois Elena começou a rir e só parou quando seus olhos estavam cheios de lágrimas; essa reação junto com a seriedade de Ana não ajudou, em nada, com a minha confusão...
 - Alguém vai me explicar o que está acontecendo ou eu terei de adivinhar? - perguntei indignada.
 - Alice, na realidade, eu nunca iria te contar o que está acontecendo, mas parece que será inevitável. - começou Ana.
Seu comentário, mesmo que sem intenção, me feriu em pouco, pois mostrava o quanto ela não confiava em mim, sua amiga há anos, mas, aparentemente, confiava em Elena, a garota que ela nem conversava.
 - Mais um de seus segredos, não é mesmo Ana? - disse amargamente - Fique tranquila, não sei como essa situação torna isso "inevitável"; como você não quer me contar apenas esquecerei que isso jamais aconteceu e estará tudo bem. Vim aqui para conversar com a Elena e não para me intrometer na sua vida...
 - Não seja assim, Alice! - interrompeu Ana - Não é porque eu não confio em você, mas existem regras que sempre me impediram de contar a verdade para você. O "inevitável" que eu disse não tem nada a ver com essa situação, mas, sim, com o que você é.
Lembra do meu estado de confusão? Pois é, ele continua intacto, senão maior do que antes. Enquanto eu pensava o que poderia ser que Ana estava se referindo quando ela disse que o problema era o que eu era, Elena interrompeu meus pensamentos:
 - Chega disso, Ana! Conte logo ou me solte! Estou ficando cansada de assistir essa cena.
"Me solte"? Com essa frase voltei minha atenção para Elena. Ela não estava presa de forma alguma... Espere, no chão...
 - Aquilo é sal? - falei assustada - Ana, por que tem sal no chão? A Elena diz estar presa e a única coisa estranha que eu vejo é o sal no chão... Ana, me diga que eu estou sonhando! Sal não faz mal à ninguém exceto... Mas, não pode ser, não tem como ela ser uma...
Fantasma. Durante os primeiros anos de nossa amizade, Ana gostava muito de assistir qualquer coisa relacionada com fantasmas, mas essa febre passou quando seus pais nos pegaram assistindo um filme na sua casa. Por isso eu sabia muito sobre o assunto, mas não poderia ser verdade, não é?
 - E, senhoras e senhores da platéia, temos uma vencedora! - interveio ironicamente Elena - Quem diria que você a treinou tão bem, Ana, ainda mais sem saber que ela é...
 - CHEGA! - gritou Ana - Quieta, Elena! Você já fez mais do que deveria. Alice, ignore o que ela disse, é uma mentira, pelo menos a última parte, quero dizer.
 - Quer dizer que eu estou certa? - falei baixo - Elena é uma... Mas como isso é possível?! Ana, se ela é o que eu acho que ela é porque eu, e você aparentemente, podemos vê-la?
Não é que eu não acredite, não me entenda mal, mas pensar que eu poderia enxergar e falar com fantasmas não é simples.
 - Bem Alice, não há maneira fácil de dizer isso, então aqui vai: eu e você somos mediadoras. Bem vinda ao meu segredo.
Depois desse dia todos os segredos que eram da Ana passaram a ser nossos segredos; e eu descobri que a vida de uma mediadora era bem mais difícil que Ana deixava transparecer enquanto eu não sabia de nada.
Se você, como eu, tem uma amiga cheia de segredos, não se preocupe! Talvez ela só seja uma mediadora.

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